A transformação digital na área da saúde não se restringe aos humanos — a medicina veterinária também está passando por mudanças significativas, impulsionadas pelas novas tecnologias e pela demanda por atendimentos mais ágeis e acessíveis.
Um dos avanços mais notáveis nos últimos anos é a telemedicina veterinária, que vem ganhando espaço no Brasil e no mundo, especialmente após a pandemia de COVID-19, que acelerou a adoção de práticas remotas em diversos setores.
Segundo dados do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), cerca de 20% dos veterinários já utilizaram algum tipo de atendimento remoto desde 2020.
Embora o tema ainda gere dúvidas e exigências regulatórias específicas, a telemedicina oferece oportunidades reais de inovação, especialmente em regiões com poucos profissionais, tutores com dificuldades de locomoção ou em situações que exigem um primeiro contato rápido.
Neste artigo, você entenderá o que é — e o que não é — a telemedicina veterinária, os benefícios que ela pode trazer para a rotina clínica, os contextos em que pode ser utilizada com segurança e como implementá-la corretamente na sua clínica ou consultório. Vamos mergulhar nesse tema que une tecnologia e cuidado com os pets de forma responsável e eficaz.
O que é telemedicina veterinária (e o que ela não é)
A telemedicina veterinária é um conjunto de práticas que permite a prestação de serviços veterinários a distância, utilizando ferramentas de comunicação digital, como chamadas de vídeo, plataformas online e aplicativos. No entanto, ela tem limitações claras e regulamentações específicas que devem ser respeitadas para garantir a segurança e a ética do atendimento.
Definição e tipos de telemedicina
O CFMV reconhece a telemedicina como parte da medicina veterinária digital, que abrange diferentes modalidades:
- Teleconsulta: realizada entre veterinário e tutor, com base em um vínculo clínico já existente e em situação previamente diagnosticada;
- Teleorientação: pode ocorrer entre tutor e profissional para esclarecimento de dúvidas, sem caráter diagnóstico;
- Teleinterconsulta: comunicação entre dois veterinários para troca de informações sobre um caso específico;
- Telediagnóstico: uso de exames enviados eletronicamente para emissão de laudos a distância.
O que a telemedicina não é
É importante destacar que a telemedicina não substitui o exame clínico presencial, especialmente em casos de primeira consulta, emergência, aplicação de vacinas ou realização de procedimentos. Também não é permitida a prescrição de medicamentos controlados por meios remotos sem uma consulta presencial anterior.
A atuação do médico-veterinário deve sempre respeitar os preceitos éticos da profissão, garantindo que o uso da tecnologia complemente, e não substitua, o cuidado tradicional.
Benefícios da telemedicina veterinária para a rotina clínica
Integrar a telemedicina à rotina de uma clínica pode trazer vantagens significativas tanto para os profissionais quanto para os tutores, desde que bem estruturada e aplicada com responsabilidade.
Maior alcance e inclusão
A telemedicina permite que tutores em áreas remotas, sem acesso a clínicas especializadas, possam receber orientações qualificadas. Isso é particularmente útil para casos simples, acompanhamento de tratamentos e revisão de exames.
Redução de deslocamentos desnecessários
Tutores com animais idosos, debilitados ou com dificuldades de locomoção se beneficiam da possibilidade de um atendimento preliminar remoto, reduzindo o estresse dos pets e a sobrecarga da clínica.
Otimização do tempo
A triagem remota permite que os veterinários organizem melhor sua agenda, direcionando casos simples para atendimentos digitais e priorizando presencialmente os que exigem intervenção imediata.
Valorização da relação com o tutor
A possibilidade de manter contato mais frequente com os tutores, mesmo após o atendimento presencial, fortalece o vínculo e a confiança na clínica, aumentando a fidelização e a satisfação.
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Quando a telemedicina veterinária pode ser usada com segurança
O uso responsável da telemedicina veterinária envolve bom senso, conhecimento das regulamentações e compromisso com a saúde animal. Existem situações específicas em que a prática é não só segura, como recomendada.
Acompanhamento de casos já diagnosticados
Pacientes em tratamento podem ser acompanhados remotamente, especialmente quando o veterinário já realizou o diagnóstico e prescreveu um plano terapêutico. A teleconsulta auxilia na verificação de evolução, efeitos colaterais ou ajustes necessários.
Orientações de pré ou pós-atendimento
Explicações sobre jejum pré-cirúrgico, administração de medicamentos, cuidados com curativos ou dieta alimentar podem ser feitas de forma eficiente por vídeo ou mensagem, garantindo a continuidade do cuidado.
Consultorias entre profissionais
Veterinários especialistas podem oferecer suporte a outros colegas por meio de teleinterconsultas, compartilhando laudos, imagens de exames e recomendações clínicas com maior agilidade.
Situações de triagem
Antes de deslocar o animal até a clínica, o tutor pode realizar uma triagem virtual, com supervisão do veterinário, para avaliar a urgência do caso e reduzir deslocamentos desnecessários ou risco de contágio (em casos de zoonoses, por exemplo).
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Como começar a oferecer a telemedicina veterinária na sua clínica ou consultório
Para implementar a telemedicina de forma segura e eficaz, é necessário planejamento, estrutura adequada e respeito às normas estabelecidas pelo CFMV.
1. Conheça e siga a regulamentação
Atualmente, a Resolução nº 1463/2022 do CFMV regula a prática da medicina veterinária digital. Leia atentamente o conteúdo, entenda as limitações e garanta que todos os atendimentos remotos estejam devidamente documentados.
2. Escolha uma plataforma segura
Evite aplicativos genéricos como WhatsApp para consultas formais. Prefira plataformas com recursos específicos para telemedicina, como prontuário eletrônico, assinatura digital, gravação das chamadas e proteção de dados (conforme a LGPD).
3. Estruture um modelo de atendimento
Defina quais serviços serão oferecidos remotamente, estabeleça protocolos de atendimento, valores, horários e formas de pagamento. Treine a equipe para orientar os tutores e preparar o ambiente virtual para os atendimentos.
4. Comunique seus clientes
Divulgue a nova modalidade por meio das redes sociais, site da clínica e materiais físicos. Explique claramente o que é possível fazer a distância, reforçando que o atendimento remoto é complementar ao presencial.
5. Registre e arquive os atendimentos
Todos os atendimentos realizados por telemedicina devem ser registrados em prontuário com data, horário, plataforma utilizada, nome do tutor e animal, motivo do contato, orientações dadas e, se houver, arquivos compartilhados.
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Agora é partir pra prática da telemedicina veterinária
A telemedicina veterinária não é uma tendência passageira — ela representa uma evolução natural da profissão, conectando cuidado, conveniência e inovação. Quando usada com responsabilidade e respeito às normas éticas, ela amplia o alcance dos serviços veterinários, melhora a experiência dos tutores e fortalece o vínculo entre clínica e cliente.E se você gostou do conteúdo, aproveite também para ler: Cursos e especializações para veterinária: recomendações para impulsionar a carreira